prefácio

Surge um escritor! Vamos celebrar!
por Dionísio da Silva


Você está abrindo um bom livro. É estreia e é de primeira qualidade. O autor tem café no bule, isto é, tem o que dizer e sabe como fazê-lo. Quem não tiver tempo de ler de cabo a rabo este livro, vá ao conto “Vila Pureza” e leia a história da universitária que é também garota de programa. Mas leia toda a narrativa, do começo ao fim. Duvido, depois disso, de que não queira ler os outros contos.

 

Nossas letras vivem a fase mais exuberante de sua história. Infelizmente, porém, a mortalidade infantil grassa também entre os livros nascituros. Não deixe este livro sem leitores. Com efeito, enquanto alguns universitários, inclusive de Letras, passam longe de bibliotecas e livrarias, um deles vai bem mais longe e, além de ler, começa a escrever. Vários deles vêm fazendo percurso semelhante. Em resumo, há vida inteligente na universidade e fora dela. E há também quem tenha sensibilidade para captar os sutis dilemas da moçada, suas perdas, descaminhos e atrapalhos, expressando-os com ousadia.

“Vila Pureza” narra as peripécias de uma menina que pode estar bem mais próxima do que pensamos. Abandonada, faz o seu caminho utilizando o sexo como forma de ascensão social e escape da vida que lhe foi destinada por condição social e biografia. Lembra a Lúcia McCartney do livro homônimo de Rubem Fonseca. Aliás, é o autor que mais tem influenciado os inéditos que me chegam às mãos. Consciente ou inconscientemente, o autor que ficou mais tempo proibido nos anos pós-1964 com o seu Feliz Ano Novo é quem mais tem mexido na dieta de leitura daqueles que juntam ao gosto de ler o raro deleite de também escrever.

 

Prefácio é para dizer poucas palavras, quase dispensáveis. Como disse Cervantes, “cada um é como Deus o fez, mas alguns são ainda piores.” Whisner Fraga, como outros bons escritores, surge com as mãos sujas. Meteu-se a revelar a face escura da condição humana, envolta em tantos sutis disfarces.

O fato de o autor ser meu aluno é mais um doce maná a cair do céu nesses anos em que atravessamos o deserto brasileiro em busca da terra prometida, onde não haverá analfabetismo e todos poderão comprar livros como se adquire o pão nas padarias